Precipitaram-se do céu
uns pingos miserentos. Daqueles suicídios inúteis, incapazes de
comover. O calor piorou. Quiseram parir mormaço. O mundo manca todo muito
incapaz, nem isso se conseguiu. A seca ainda vence. É só quente. É só
inferno. Semana passada tinha um corpo estendido na rua da catedral.
A igreja badalou, mas não o morto, as horas. E me disseram, do
púlpito o pai de batina rogou aos devotos de algum tipo de deus que
não entendo que não dessem esmolas aos mendigos da beirada do
santuário. Sem vírgulas, sem parênteses. Eu penso às vezes -
calor deforma caráter. Isso, cogito; mas sei, faz apodrecer tudo
mais rápido. Temi o corpo exalando e atrapalhando a vida do bairro.
Naquela rua há palmeiras e acho bonito. Gonçalves Dias ficaria
contrariado. Podridão não combina com palmeiras. Seria o caso de
arrancar as palmeiras? Coisa resolvida pela ágil polícia. Removeram
o corpo. Rapidamente. Lembro dos anúncios de televisão, sedutores
para alguns, de produtos miraculosos de tira-óleo, tira-limo,
tira-pensamento. A chuva, quando chegar, removerá as manchas do
chão. E a morte de todos removerá as marcas sabidas, mas
silenciadas em mim, a cada vez que novamente ouvir o sino.
"Daqueles suicídios inúteis, incapazes de comover."
ResponderExcluirinteressante sentença.