sábado, 17 de setembro de 2016

Segundo

Gelo uma garrafa de vinho. Deu no jornal: pai mata os filhos e se suicida em seguida por conta de dívidas. Gelo minha garrafa de vinho. É espanhol mas não é caro. Nenhum grande luxo que me valesse assassinatos e a própria morte caso me fosse negado o vinho. Talvez, se me fosse negado depois de dado, mas um espanhol, apenas. Um espanhol de derreter e não de se gelar. Um espanhol de carne e não de vidro. Ando exausta de pessoas que se rompem ao chão como taças e botelhas. Abro a garrafa de vinho e minha gata me lambe os dedos da mão direita. Eu não digo, mas é bom receber beijos. Deu também no jornal: homem trabalhador da reciclagem é morto a flechadas enquanto empurrava seu carro de papel. Bebo o meu vinho gelado. Faz um inferno lá fora. É um inferno aqui dentro. Os alvos de hoje em dia me lembram algum filme americanóide que eu acho que vi. Mas no filme os mortos não morrem. Meu vinho está gelado e é bom. Minha gata me lambe os dedos. O calor do cerrado me esmaga o cérebro. A televisão eu desligo.

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